11/08/2008

2º dia no deserto 03/02


As 7h da manhã acordamos na correria para arrumar nossas mochilas. Tomamos um café da manhã cujo pão era tão duro quanto nossas camas e subimos no jipe para continuar nossa viajem.
Nossa primeira parada foi para conhecer esculturas naturais de pedra belíssimas. Conhecemos outras lagoas coloridas e a fauna do deserto, composta por lhamas, lagartos, pássaros e raposas. Num dado momento, o motorista parou o jipe e uma raposa aproximou-se e sentou-se ao lado do carro. Jogamos um pão e ela foi embora muito agradecida pelo presente.
Após viajarmos durante mais 3h observando as paisagens, finalmente estacionamos no meio das pedras para almoçar e descansar ao ar livre com o outro grupo. No menu, arroz com pepinos e atum. Tudo muito sofrível para vegetarianos. Comíamos sentados nas pedras quando percebemos que alguns ratinhos e coelhos gordos vinham aos poucos sentar ao nosso lado, sempre de olho em nossa mesa improvisada. Animei-me com a bicharada e me levantei para colocar nas pedras alguns pepinos. Foi quando uma européia, cuja nacionalidade não me lembro, deu um berro em inglês advertindo para que eu não desse nada aos animais, como se nas minhas mãos houvesse batatas fritas ou chocolate. Muito sem graça ao perceber que aquilo tinha chamado a atenção de todo o grupo, enfiei os pepinos na boca e fui me sentar fazendo bico pela bronca. Foi quando o motorista, que havia nascido e crescido naquelas terras, apareceu e deu os pepinos ao coelho. Num tom de desaprovação, a mesma garota reclamou dizendo que o governo deveria educar os motoristas que não se deve dar comida aos animais. Não estávamos em nenhum parque ecológico privado dos EUA, muito menos da Europa, e achei muito prepotente dizer como um local deve comportar-se em seu próprio habitat.
Continuamos nossa viajem por mais 1h, até chegarmos num pequeno povoado onde estava nosso segundo alojamento. Ao entrar, comemoramos: tinha um chuveiro para 20 viajantes, um verdadeiro luxo! Não tivemos problemas de congestionamento para usar os chuveiros, pois o grupo europeu não se preocupou em tomar banho (disseram que, para quem já ficou quatro dias sem banho, um a mais não faria diferença).
Depois de colocar roupas limpas e tirar toda a areia do cabelo, eu e o Afonso saímos com o casal de chilenos para tomar cerveja na praça. Grande erro! Estávamos em época de carnaval, e logo descobrimos que o costume na Bolívia é festejar jogando água nas pessoas que passam nas ruas. Não demorou muito para sermos atacados por dezenas de crianças armadas com pistolas e bexigas cheias de água. Saímos correndo e entramos no alojamento para nos esconder. Mas não nos intimidamos... Nesse momento, o outro grupo apareceu com vários sacos de bexiga, que nos ofereceram, e o resultado foi uma verdadeira guerra com as crianças.
Atacávamos os moleques e depois corríamos para dentro do alojamento para nos esconder. Até a senhora dona do lugar animou-se e ofereceu a mangueira para que tivéssemos vantagem sobre a molecada, mas mesmo assim, terminei o dia com meu único jeans limpo completamente encharcado.
Depois dessa brincadeira toda jogamos um pouco de baralho com os dois grupos enquanto esperávamos o jantar ficar pronto. Tomamos um pouco de vinho e aproveitamos um pouco da noite para conversar sobre cada país de cada um da mesa. Depois de comer, eu e o Afonso capotamos em cheio na cama, enquanto os demais saíram animados para curtir a festa de carnaval da cidade.
Nesse momento percebi nossa desvantagem: após 20 dias viajando, já sentíamos o cansaço acumulado e forte dores nas costas, enquanto os demais turistas, que apenas estavam começando a viajem, ainda estavam no maior pique.






2 comentários:

Anônimo disse...

Não me canso de ler o blog de vocês.Cada vez é mais legal.
Desta vez, esta história de se comemorar o Carnaval jogando água uns nos outros me lembrou o "Entrudo", germe do carnaval brasileiro.
Talvez, também isso - além de outros tantos fatores (não tão festivos...) como nossas ditaduras e a exploração predatória de nossas riquezas etc - ressalte a viabilidade da nossa vertente continental e a necessidade de uma maior integração latino-americana, ainda hoje tão precária. Poderia ser algo bem mais significativo do que um "Mercosul", não acham? Afinal, não somos tão diferentes assim, não é verdade?!...

Eduardo

Obs.: Tirei o texto abaixo, sobre o "entrudo", da Internet (http://www.terrabrasileira.net/folclore/origens/portugal/entrudo.html)

O carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses, provavelmente no século XVII, com o nome de entrudo. Essa forma de brincar, que persistiu durante a Colônia e a Monarquia, consistia num folguedo alegre mas violento. As pessoas atiravam umas nas outras água com bisnagas ou limões de cera e depois pó, cal e tudo que tivessem às mãos. Combatido como jogo selvagem, o entrudo prevaleceu até aparecerem elementos de brincar menos agressivos, como o confete, a serpentina e o lança-perfume. Daí em diante, através dos tempos, o carnaval foi inovando. Em 1840 realizou-se o primeiro baile. Em 1846 surgiu o Zé Pereira, grupo dos foliões de rua com bombos e tambores. Vieram depois os cordões, as sociedades carnavalescas, blocos e ranchos. O corso, hoje desaparecido, consistia num desfile de carros pelas ruas da cidade, todos de capota arriada, com foliões fantasiados atirando confetes e serpentinas uns nos outros. Em 1929, foi fundada a primeira escola de samba (Deixa Falar), no bairro carioca do Estácio, seguida de várias outras, no Rio de Janeiro e em outros estados.

Anônimo disse...

muito bacana!